terça-feira, 9 de setembro de 2008

O Quarto Lacrado

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Do diário de Lady Anne Dowson Chambers

"Nos encontramos logo após o almoço no corredor do segundo pavimento. Não parecia haver nada especial ali, até que Lord Arthur Pellgraine ordenou que dois criados removessem um armário revelando um espaço onde a pintura era um pouco diferente. Batendo na superfície ele disse que ali devia ficar a porta para o estúdio lacrado.

Com a ajuda de marretas, os dois homens colocaram a parede de gesso abaixo revelando uma porta antiga. Pregado nela um crucifixo de prata e dizeres escritos com giz onde se lia: "Deus proteja aqueles que entrarem nesse aposento tocado pelo próprio diabo". Pellgraine riu dos dizeres afirmando que um dos supersticiosos empregados de sua avó deve ter rabiscado as palavras. Arrancando a imagem ele testou a porta que se abriu".

Do diário de Nathan Barton:
"Ao abrir a porta sentimos um odor desagradável. Por Deus, o odor de sangue fresco empesteava o ar como em um matadouro. A luz do lampião que eu e o capitão Theobalds carregavamos iluminou o aposento pestilento. Os criados foram dispensados por Pellgraine furioso com suas reclamações.

O estúdio era pequeno, entulhado até o teto de objetos dispostos em prateleiras, bancadas e em uma massiva escrivaninha. Haviam papéis amarelados sobre uma cômoda, um sinistro crânio sorridente sobre a escrivaninha de carvalho, um pequeno laboratório repleto de frascos e vidros rotulados, artefatos egípcios inclusive um gato mumificado e outros itens de natureza agourenta. O Dr. Quayle chamou a atenção para o chão e todo o resto perdeu o sentido quando enfim vimos com nossos próprios olhos algo que não deveria estar lá... mas não obstante estava! Uma enorme quantidade de sangue formando poças no piso."

Do diário do Dr. Richard Quayle
"Era sangue fresco. Como médico, reconheci a substância que manchava o chão e a parede em profusão. Não podia ser um truque teatral. O sangue era de verdade - ao menos dois litros. Apesar da certeza, me coloquei de joelhos e usando um tubo para amostras apanhei uma pequena quantidade para analisar mais tarde. Os outros pareciam horrorizados, Pellgraine sussurrou em voz baixa: "Então é verdade...". Para mim, aquilo era fantástico, uma chance de estudar cientificamente um inegável fenômeno."

Do diário de John Matthews

"O desconforto diante da cena era tangível na expressão de cada um. Enojado, levei um lenço ao nariz e amparei Lady Anne. Sabendo que não poderia ser de grande ajuda analisando a substância pegajosa, me pus a examinar os objetos na sala em busca dos itens que procurávamos. Ao diabo com aquilo, quanto mais cedo encontrássemos o que viemos buscar, mais cedo deixaríamos aquele aposento.
Nas prateleiras e armários havia uma verdadeira miscelânia de itens de natureza sobrenatural. Alguns estranhos, outros curiosos, alguns simplesmente repulsivos em forma e significado. Um gato envolto em faixas como uma múmia e uma revoltante coleção de falos africanos foram o bastante para me afastar do armário. Ao menos, ao me voltar para a escrivaninha descobri uma coleção de tomos encadernados em couro escuro que pareciam ser bastante antigos. Dois deles eram manuscritos e apesar da caligrafia estar desaparecendo ainda era possível ler o título na primeira folha: "Diário de Andrea Pellgraine".
Do diário de Graham Theobalds
"Movido pelo sentimento de cumprir a missão que havíamos traçado, comecei a buscar os objetos dispostos. O laboratório composto de vidraçaria não me interessou, quanto mais depois de ler alguns rótulos em que estavam escritos nomes em latim e grego. Passei para a escrivaninha onde tive mais sorte. Abaixo de um crânio amarelado que parecia sorrir sardonicamente havia um grande livro puído. Folheei as páginas e sorri ao constatar que era o grande prêmio que viemos buscar: o próprio Grimório pertencente ao proclamado feiticeiro.

Com o tomo de baixo do braço, tomei o caminho da saída. Matthews fez o mesmo trazendo outros dois volumes. Yeats também apanhou alguns objetos promissores que desejava examinar com mais cuidado. Arthur permaneceu em silêncio observando os objetos com uma expressão indecifrável. Quando terminamos de recolher o butim deixamos o estúdio para analisar os objetos.

Do diário do Dr. Richard Quayle

"O Sr Yeats estava satisfeito com as descobertas, e propôs que retornássemos o quanto antes para Londres. Na Sede da Golden Dawn poderíamos analisar os objetos com mais cuidado e consultar livros de referência. Arthur concordou, desde que Frater DEDI se comprometesse a responder a sua proposta o quanto antes. Pouco depois rumamos para Londres, interessados em investigar os tesouros colhidos no estúdio que pertenceu a Thomas Pellgraine".

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